Comunidade do Castro em Barão de Cocais reclama de barulho, poeira e casas danificadas

Moradores participaram de audiência pública sobre impactos da atividade minerária na região nesta segunda (12).

Moradores da comunidade do Castro, localizada na zona rural de Barão de Cocais (Região Central), convivem diariamente com barulho excessivo, poeira, casas com rachaduras e restrições para se deslocarem. Eles relataram problemas causados pela atividade minerária na localidade em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (12/5/25).

A presidente da Associação do Castro, Iderlane Cristina da Conceição, contou que ao menos cinco mineradoras estão ao redor da comunidade do Castro. A “Via do Minério”, por onde circulam veículos pesados das mineradoras, atravessa a comunidade.

Além disso, segundo Iderlane Cristina, o Centro de Distribuição de Barão (CDB) foi implantado há dois anos na localidade e, depois disso, os problemas da comunidade com cerca de 70 pessoas se agravaram.

O CDB fica em um terreno da Vale, mas outras mineradoras também utilizam o empreendimento. Nele, há vagões e trens utilizados na logística para escoar a produção.

“Nossas casas estão danificadas e perto de cair. Há laudos interditando moradias. Os animais da gente não podem circular porque são atropelados. Há poeira e barro na comunidade e as nascentes de água estão acabando.”

Iderlane Cristina da Conceição

Presidente da Associação do Castro

Ainda de acordo com a presidente da associação, crianças da comunidade têm muitas infecções por causa da poeira. “Minha neta mesmo é um desses casos. Vim para Belo Horizonte por causa dela. É triste você sair do lugar que você comprou pra viver porque a mineração não nos dá paz”, acrescentou.

A vice-Presidente da Associação da Comunidade do Castro, Glace Oliveira, corroborou a fala anterior. Ela mora no local há 22 anos e destacou que os problemas começaram antes do CDB.

Ela reclamou do barulho constante de máquinas e de caminhões carregados de minério. “Algumas das nossas casas ficam a menos de 200 metros do Centro de Distribuição de Minério. Não é possível dormir”, relatou.

Moradores pedem contrapartidas

Conforme a tesoureira suplente da associação, Kátia Ferreira, moradores da comunidade elaboraram um plano de ação para fazer frente aos problemas relatados.

“Não somos contra a mineração. Mas queremos um equilíbrio para que a gente não tenha só perdas com a atividade.”

Kátia Ferreira

Tesoureira suplente da associação de moradores

Foram ressaltadas as seguintes demandas:

  • área para construção de centro comunitário com espaço para lazer e prática de esportes
  • participação ativa da comunidade nas questões relacionadas à Via do Minério
  • acompanhamento psicológico para moradores
  • desenvolvimento de atividades para crianças como reforço escolar e aulas de dança
  • realização de projetos de empreendedorismo
  • capacitação profissional para ingressar em empresas que atuam na Via do Minério
  • construção de área verde
  • construção de viaduto

O operador de Equipamentos da Vale e morador da comunidade Juliano do Nascimento defendeu a importância da mineração responsável.

“Precisamos de uma mineração sustentável. Uma mineração que não respeita as pessoas e o meio ambiente não é sustentável. Em Barão, vivemos o boom da mineração. No dia a dia, vemos novas minas sendo abertas e estradas para escoar o minério. Então, é preciso trabalhar de forma respeitosa”, disse.

Todas as casas apresentam problemas, segundo Defesa Civil 

Coordenadora da Defesa Civil Municipal de Barão de Cocais, Helena Batista, relatou que todas as casas novas ou não do Castro têm patologias.

“É uma trinca, rachadura e/ou teto comprometido. Há relatos de que máquinas passavam muito perto das casas durante as obras do CDB e comprometeram as estruturas. E hoje há um fluxo intenso de caminhões na localidade. Apesar do controle de velocidade, os motoristas não respeitam.”

Helena Batista

Coordenadora da Defesa Civil Municipal de Barão de Cocais

Parlamentares pedem solução coletiva para problema

De acordo com o deputado Lucas Lasmar (Rede), solicitante da reunião, é preciso encontrar uma saída para o problema da comunidade de modo conjunto, envolvendo poder público, moradores e mineradoras.

O parlamentar reforçou as demandas da comunidade por contrapartidas, inclusive, a partir de requerimentos formulados pela comissão. Para ele, parte da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), destinada ao município, deve ir para a localidade.

Oito dos 11 vereadores de Barão de Cocais participaram da audiência e manifestaram apoio aos moradores.

Na opinião do presidente da Câmara Municipal, Tiago Antônio dos Santos, conhecido como Tico, hoje a mineração segue desenfreada na cidade.

“Nós vereadores lutamos há bastante tempo para a população do Castro ser ouvida e devidamente compensada. Mas isso não tem acontecido”, contou.

Representantes de órgãos ambientais relatam ações 

A chefe da Unidade Regional de Regularização Ambiental do Leste Mineiro, ligada à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Lirriet de Freitas, relatou que o CDB fez o protocolo para o licenciamento ambiental.

“Os impactos negativos foram mencionados. E há medidas mitigadoras referentes ao controle de qualidade do ar e de ruídos, além do gerenciamento do trânsito, por exemplo”, contou.

Como relatou, o órgão ambiental estabeleceu 18 condicionantes a serem cumpridas. Semestralmente, o empreendedor deve apresentar relatório sobre o assunto para provar a viabilidade do CDB.

Já segundo a superintendente de Inteligência da Subsecretaria de Fiscalização Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Elisangela de Oliveira, a fiscalização pode agir a partir de denúncias recebidas. Ela complementou que todas as denúncias até o momento foram respondidas.

Coordenador do CDB explica monitoramento de condicionantes

De acordo com o coordenador da CDB Logística, Gustavo de Almeida, o empreendimento faz monitoramento ambiental de condicionantes desde o período das obras até agora no seu dia a dia. Conforme disse, o grupo está aberto ao diálogo com a comunidade. 

O gerente jurídico da Flapa Mineração (uma das mineradoras com atuação na localidade), Eduardo Pinheiro, também reforçou que a mineradora está aberta ao diálogo e vai observar as demandas da comunidade. 

ALMG

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